Pus o Meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas;
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles, Obra Poética, volume único,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1983
P.S.: meu sonho ainda está por desaparecer.
Um dos meus poemas preferidos, brilhantemente cantado por Amália. <3
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